terça-feira, 25 de março de 2014

Confessar-se a um padre?

   Alguém dizia: “Eu? Ir dizer os meus pecados a um homem como eu? Só se eu fosse burro!”; E um velho pároco respondeu: “De facto, se for dizer os seus pecados a um homem como o Sr., é muito burro, mas se os for dizer a um homem que é padre, aí será bem diferente!”

Se tem que ser para uma coisa, também tem que ser para a outra...
   Muitos são os que têm dificuldade em entender a necessidade da confissão sacramental: “Afinal, se Deus me ouve sempre, basta pedir perdão directamente a Deus, não preciso do padre para nada”, pensam muitas pessoas. No entanto, mesmo que alguns achem que o padre não é preciso para o perdão dos pecados, todos aceitam sem discussão que o padre é preciso para a Eucaristia e que sem padre não há Missa. Porém, se o ministério do padre é indispensável para haver Missa, faz sentido que também o seja para haver o perdão dos pecados! Se precisamos do sacerdote para podermos comungar, é evidente que também precisamos dele para nos serem absolvidos os pecados, porque Aquele que instituiu a Eucaristia foi Quem instituiu também o perdão dos pecados. Afinal, os que se confessam “diretamente a Deus” quando
desejam comungar não vão directamente a Deus!... Quem se confessa “directamente a Deus”, não pede o Pão do Céu “directamente a Deus”.

A certeza de ser perdoado
   A atitude de quem pretende ir “directamente a Deus” é desencarnada, vaga, fica a pairar; é subjectiva, porque não tem nenhuma palavra nem gesto concreto que a garanta. Eu não posso salvar-me a mim mesmo nem perdoar-me a mim próprio. Posso dizer “Deus perdoa-me”, mas… como é que eu sei que Ele me perdoa? Que sinal concreto tenho que me dê a certeza desse perdão? O sacramento da confissão é esse sinal concreto, pois os sacramentos são “sinais eficazes da graça”.

A ingratidão de quem despreza um presente
   Os sacramentos são sinais visíveis de uma realidade invisível, sinais que tornam visível o amor de Deus, sinais eficazes pelos quais Deus Se torna tão próximo de nós e Se entrega tão totalmente que é uma ingratidão sem nome rejeitá-los. Sim, é altamente ofensivo ao amor de Deus dizer “Eu confesso-me directamente a Deus, não preciso do sacramento da confissão para nada”. Era como se, no dia do nosso aniversário, atirássemos com o presente que recebemos à cara no amigo que o ofereceu, dizendo-lhe: “Eu faço anos todos os dias, não preciso de prendas de aniversário para nada!”.

E se o sacerdote for o pior dos pecadores?
   O padre tem capacidade de absolver os pecados dos outros, podendo ele ser, eventualmente, muito pior? Ainda bem que sim, porque eu preciso de ser perdoado, independentemente de conseguir, para isso, um padre muito santo ou muito pecador. O perdão de Deus não está dependente da santidade do ministro (embora ela seja desejável!). Sim, o sacerdote (também ele necessitado de se confessar) pode absolver-me e a absolvição é válida porque não é ele que me perdoa: é Cristo que me perdoa através dele!

domingo, 23 de março de 2014

Aproveita esta Quaresma!

   Esta é uma frase que, embora chocante, nos pode acordar: esta pode ser a nossa última Quaresma! Por isso, há que não desperdiçar o tempo favorável que Deus nos dá para nos convertermos; é preciso que não seja “mais uma quaresma”, mas sim “a Quaresma”!
    Que sentido faz dizermos que estamos em Quaresma se não for para mudar algo na nossa vida? Continuar a nossa vida normalmente, como se estivesse tudo bem não será viver a frustração da superficialidade? Não será por isso que estes tempos da Quaresma e da Páscoa por vezes não nos dizem nada? Jesus Cristo convida-nos a muito mais! Ser cristão é ser dinâmico, é viver em conversão permanente. Se a Quaresma não nos servir para morrermos, um pouco que seja, para o “homem velho”, então a Páscoa da Ressurreição será para nós um mito do passado; mas é preciso que a Ressurreição aconteça na minha vida, hoje! Já vamos no 3º Domingo, a meio da Quaresma: será que já estamos a viver algo diferente? Aproveitemos este tempo, que é favorável. “Procurai o Senhor enquanto Se pode encontrar”, diz a Escritura. Há que não viver “mais uma quaresma”, mas “a Quaresma”!

quinta-feira, 13 de março de 2014

O Estranho chegou e instalou-se...

   Alguns anos depois que nasci, o meu pai conheceu um estranho. Desde o princípio, o meu pai ficou fascinado com este encantador personagem, e convidou-o a viver com a nossa família! O estranho aceitou e, desde então, tem estado connosco.

   Enquanto eu crescia, nunca me perguntei sobre o seu lugar na minha família; na minha mente jovem, já tinha um lugar muito especial. Os meus pais eram instrutores complementares: a minha mãe ensinou-me o que era bom e o que era mau, o meu pai ensinou-me a obedecer... mas o estranho é que era o nosso narrador. Mantinha-nos enfeitiçados por horas com aventuras, mistérios e comédias. Ele tinha sempre resposta para qualquer coisa que quiséssemos saber de política, história ou ciência. Conhecia tudo do passado, do presente e até podia predizer o futuro! Levou a minha família ao primeiro jogo de futebol. Fazia-me rir e fazia-me chorar.

   O estranho nunca parava de falar, mas o meu pai não se importava. O meu pai dirigia nosso lar com certas convicções morais, mas o estranho nunca se sentia obrigado a honrá-las. As blasfémias, os palavrões, por exemplo, não eram permitidos em nossa casa… Mas, o estranho usava, sem problemas, a sua linguagem inapropriada que, às vezes, queimava os meus ouvidos e que fazia o meu pai retorcer-se e a minha mãe ruborizar-se.

   O meu pai nunca nos deu permissão para tomar álcool. Mas o estranho animou-nos a tentar e a fazê-lo regularmente. Fez com que o cigarro parecesse fresco e inofensivo, e que os charutos e cachimbos fossem distintos. Falava livremente (talvez demasiado) sobre sexo. Os seus comentários eram, às vezes, evidentes, outras sugestivos, mas sempre vergonhosos. Agora sei que os meus conceitos sobre relações foram influenciados fortemente, na minha adolescência, pelo estranho.

   Repetidas vezes o criticaram, mas ele nunca fez caso e, mesmo assim, permaneceu no nosso lar. Passaram-se já muitos anos desde que o estranho veio para nossa família. Desde então, mudou muito: já não é tão fascinante como era ao princípio. Mesmo assim, quem, ainda  hoje, entrar na casa dos meus pais, lá o encontra sentado no seu canto, esperando que alguém queira escutar as suas conversas ou dedicar o seu tempo livre a fazer-lhe companhia...

   O seu nome? Televisor... E agora ele tem uma esposa que se chama Internet e um filho irrequieto que se chama Telemóvel!
   (Agora, releia e medite!...)

sábado, 8 de março de 2014

Quaresma: um tempo triste?

Terminadas as folias carnavalescas, começa este tempo em que somos convidados à penitência, à renuncia…
Mas… será um tempo tristonho, como, talvez nos tenhamos habituado a vê-lo? Afinal, se eu, por penitência me privar de um vício ou fizer uma alimentação mais moderada, é ou não é verdade que a minha saúde fica logo a ganhar? E é ou não é verdade que o meu espírito fica muito mais livre para me aproximar de Deus? E para partilhar com alguém? É desagravo e acorda-me para a conversão. E é ou não verdade que a confissão me põe a vida “em pratos limpos”, reconciliando-me com Deus e com a Igreja?
Afinal, a Quaresma só nos faz voltar ao que é mesmo importante!...
Por que é que vemos como tristeza um tempo que, afinal, nos desvia de tanta coisa má, ou em excesso, e nos dá tanta coisa boa?
Tristeza é o pecado e a mediocridade em que teimamos viver todos os dias!
“Eis tempo favorável, eis o dia da salvação”: hoje é o dia!